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O Pagador de Promessa

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Adaptado da peça homônima de Dias Gomes, O Pagador de Promessa é o único filme brasileiro a ganhar Palma de Ouro em Cannes desbancando filmes como “o anjo exerminador”, de Buñuel, “L’Eclisse”, de Antonioni. É legitimamente um filme bahiano como disse Glauber Rocha. Dotado de simblismos subversivos o filme juntamente com o Terra em Transe do Glauber Rocha talvez sejam os filmes com as metáforas mais inteligentes do Cinema Brasileiro. Um simples camponês, devoto que faz uma promessa para nossa senhora num terreiro, ignorando as diferenças entre a crença afro-religiosa e a católica, e quando chega na igreja esbarra em um padre intransigente e que carrega consigo a herança dos ideais escravocratas defendidos pela igreja desde os tempos da escravidão com os negros oriundos da África. O diretor tem a delicadeza de criar um personagem que carrega consigo o espírito socialista-libertário mas fora de pretenciozismo panfeltário característico da esquerda brasileira. Com naturalidade ao falar da divisão que fizera com os empregados de seu pequeno sítio, repartindo em partes iguais o diretor mostra sua grandeza e talento ao ambientar no filme de maneira tão simples mas com um inteligência, com cuidado. E ao mesmo tempo retrata o oportunismo por parte do jornalista, do Cafetão que é tipicamente brasleiro. A Cena dos negros da capoeira filhos de iansã na porta da igreja, em uma conclamação que podemos atribuir a uma frase do Marx, mas que extrapola o conceito de operariado e estendendo para o de minoria onde cabem os trabalhadores. O Marx disse: “trabalhadores de todo o mundo uni-vos”, e no filme isso acontece quando os capoeira se juntam para defender o pobre homem que no final é morto por um policial em meio à confusão. Na sequência vem umas das cenas mais marcantes e subversivas do filme que é quando os negros entram com o camponês morto sobre a cruz entrando na porta da igreja ao som de cânticos afros. É simplismente genial.

 


Informações sobre o filme
Gênero: Arte                          
DireçãoAnselmo duarte
Duração: 98minutos                  
Ano: 1962, Brasil
Segue abaixo um comentário feito por Glauber Rocha sobre o filme.O Pagador de Promessas excita o tempo todo: não provoca a menor reflexão. O homem humilde e simples é contaminado pelo misticismo de Zé do Burro e, como ele, quer destruir aquele padre para entrar na Igreja. E, mesmo que a entrada na Igreja fosse simbólica, o símbolo da Igreja é maior em si mesmo: a exaltação é puramente sensual. Eis porque classifico O Pagador de Promessas como filme baiano. É o resultado típico de um espírito retórico, que encontra no poeta condoreiro dos escravos seu príncipe legítimo. Como espetáculo, O Pagador de Promessas é mais importante que O Cangaceiro e Orfeu Negro: Anselmo Duarte é um diretor que conhece seu ofício com segurança, e desde Absolutamente certo que denota senso de observação humana e social. Em O Pagador de Promessas esteve preso às limitações exigidas por Dias Gomes e teve pouca liberdade criadora.
Glauber Rocha

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