Adaptado da peça homônima de Dias Gomes, O Pagador de Promessa é o único filme brasileiro a ganhar Palma de Ouro em Cannes desbancando filmes como “o anjo exerminador”, de Buñuel, “L’Eclisse”, de Antonioni. É legitimamente um filme bahiano como disse Glauber Rocha. Dotado de simblismos subversivos o filme juntamente com o Terra em Transe do Glauber Rocha talvez sejam os filmes com as metáforas mais inteligentes do Cinema Brasileiro. Um simples camponês, devoto que faz uma promessa para nossa senhora num terreiro, ignorando as diferenças entre a crença afro-religiosa e a católica, e quando chega na igreja esbarra em um padre intransigente e que carrega consigo a herança dos ideais escravocratas defendidos pela igreja desde os tempos da escravidão com os negros oriundos da África. O diretor tem a delicadeza de criar um personagem que carrega consigo o espírito socialista-libertário mas fora de pretenciozismo panfeltário característico da esquerda brasileira. Com naturalidade ao falar da divisão que fizera com os empregados de seu pequeno sítio, repartindo em partes iguais o diretor mostra sua grandeza e talento ao ambientar no filme de maneira tão simples mas com um inteligência, com cuidado. E ao mesmo tempo retrata o oportunismo por parte do jornalista, do Cafetão que é tipicamente brasleiro. A Cena dos negros da capoeira filhos de iansã na porta da igreja, em uma conclamação que podemos atribuir a uma frase do Marx, mas que extrapola o conceito de operariado e estendendo para o de minoria onde cabem os trabalhadores. O Marx disse: “trabalhadores de todo o mundo uni-vos”, e no filme isso acontece quando os capoeira se juntam para defender o pobre homem que no final é morto por um policial em meio à confusão. Na sequência vem umas das cenas mais marcantes e subversivas do filme que é quando os negros entram com o camponês morto sobre a cruz entrando na porta da igreja ao som de cânticos afros. É simplismente genial.
Informações sobre o filme
Duração: 98minutos
Glauber Rocha