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O Sétimo selo, e mais quatro filmes geniais de Ingmar Bergam

Nessa época em que a mediocridade é oficialmente financiada, sob o a justificativa da democratização da cultura (o que se parece mais com uma imposição da cultura do pão e circo), é aconselhado recorrer a certas obras que, com uma refinada ousadia levantaram questões existentes desde sempre, como por exemplo Deus e a morte. Um hábito relacionado à civilização Asteca (grupo étnico que vivia na regigião central do atual México, por volta dos séculos XIV e XVI)era brindar à morte. Se o faziam, possivelmente haviam o sanado questões específicas acerca desse tema.

Essa questão está evidente num dos principais filmes de um dos artistas mais respeitados do século XX. Ele levantou divessas questões inerentes ao ser humano, como a pergunta que talvez seja a mais feita: De onde viemos, e o que acontecerá pós morte, pra onde vamos ? questões metáfísicas acerca de Deus e o do além humano. Pois, este tal artista é o dramaturgo e diretor sueco Ingmar Brgman (Uppsala, 14 de julho de 1918 — Fårö, 30 de julho de 2007), foi um dos principais artistas dos quais temos conhecimento, que soube colocar essas questões em sua obra. Em particular no filme O Sétimo Selo / Det sjunde inseglet / The Seventh Seal , De 1957. No filme quando a morte vai em busca de um homem e ele ao se dá conta, propõe uma partida de Xadrez, e ao passo que sua ida com a morte é adiada vai indagando a morte sobre as grandes questões da humanidade, e que tanto nos perturba. É de grande genialidade por num drama cinematográfico este assunto que envolve metáfísica e psicanálise, levando em conta o contexto histórico sombrio que gerou certos ideais que estão como espectros, presentes em várias sociedades, e por muito tempo ainda permanecerão. A peste, profanações, amor e a verdade religiosa como agente repressor. O Diretor que era filho de pai protestante, e que sofria repressão e desdém familiar, deliberadamente ou não, deixa escapar atarvés na atuação dos personagens a presença do divino em sua obra, mas com conturbada relação. Enfim.

Selecionamos alguns dos que consideramos ser os melhores filmes do diretor. Nos isentaremos de justificar os motivos que nos levaram a crer que estes cinco filmes são nossos preferidos. É uma questão sensível que inteligivelmente torna-se difícil de explicar. Apresentaremos os filmes com sua descrição e deixaremos que o leitor faça seu próprio juízo acerca da obra desse grande diretor.

1. O Sétimo Selo / Det sjunde inseglet / The Seventh Seal – 1957

Antonius Block retorna das cruzadas e encontra sua vila destruída pela peste negra. Depois disso passa a refletir sobre o sentido da vida, mas a Morte (Bengt Ekerot) aparece para levá-lo. Porém, Block se recusa a morrer sem ter entendido o sentido da vida e propõe um jogo de Xadrez, onde se ele ganhar continua a viver. Apesar de perder o jogo, a Morte continua a perseguí-lo enquanto viaja pela Suécia medieval.

Suécia, 96 min, Drama. Áudio: Sueco

2. Morangos Silvestres / Smultronstället – 1957

Morangos Silvestres conta a história de um médico e professor aposentado, Isaak Borg (Victor Sjostrom), que aos 78 anos será homenageado com o título honorário da Universidade de Lund, sua cidade natal, a qual abandonara em favor de Estocolmo. Desde a véspera até a chegada em Lund, Borg é invadido por recordações do passado que confrontam o seu presente. Sonhos, devaneios e flashbacks conduzem-no a um mergulho no inconsciente, fazendo-o perceber que seu temperamento áspero e distante impossibilita o envolvimento afetivo com familiares e amigos, protegendo-o do sofrimento e, por outro lado, isolando-o. A constatação da velhice e solidão trazem a presença iminente da morte, incitando-o a repensar sua vida durante o percurso que faz até Lund. O desencadeador dessa viagem introspectiva é o sonho que teve na noite anterior à partida para a sua celebração.
Suécia, 91 minutos, Drama, Áudio: Sueco

3 -Fanny & Alexandre / Fanny och Alexander

No início do século XX, após um alegre Natal na família Ekdahl, o pai de um casal de crianças vem a falecer. Deste momento em diante Alexander (Bertil Guve), o menino, passa a ver o fantasma do pai freqüentemente. Tempos depois Emilie (Ewa Fröling), sua mãe, casa-se com um extremamente rígido religioso e as crianças são obrigadas a deixar a casa da avó paterna, onde foram muito felizes, e passam a viver com a família do padrasto de hábitos severos, onde são tratados como prisioneiros. Na casa do padrasto o menino passa a ver o fantasma da primeira esposa dele e suas filhas, que haviam morrido tentando escapar dele. Decorrido algum tempo, a mãe se conscientiza da real personalidade do marido e de quanto seus filhos sofrem naquela casa, assim planeja um modo de tirá-los daquele lugar e levá-los de volta à casa da avó.

Suécia, 1982, Drama. Áudio: suéco

4. O Ovo da Serpente / The Serpent’s Egg

O Ovo da Serpente é uma reconstituição histórica, em Berlim de 1923, da ascensão do Nazismo, visto através da vida cotidiana de um judeu e de uma cantora de cabaré de péssima categoria. A inflação e o bolchevismo servem de cenário à luta desesperada pela sobrevivência.
Alemanha, início dos anos 20. O país está em decadência, a economia vai mal, pelas ruas o povo anda desesperançado, descrente. Um ambiente propício para a ascensão de um novo líder, alguém carismático, capaz de reerguer o ânimo da população. Esse alguém tinha um nome: Adolf Hitler. Mas a história que este filme conta não é uma simples história política.

EUA / Alemanha, Suspense – Drama , 1977. Áudio: Inglês / Alemão

5. A Paixão de Ana / En Passion

Andreas, um homem que sofre pelo fim de um recente casamento e por seu isolamento emocional, fica amigo de um casal que também passa por um momento delicado. É então que ele conhece Anna, que está superando uma tragédia que ocorreu com sua família. Andreas e Anna iniciam um relacionamento, porém para ambos é difícil esquecer o que aconteceu anteriormente em suas vidas. Enquanto isso, a comunidade em que vivem está aterrorizada por vários animais que estão sendo encontrados brutalmente assassinados.
Suécia, 1969, Drama. Áudio: Sueco

Selecionamos um texto escrito sobre o filme Morangos Silvestres pelo crítico Patrick Corrêa dos Santos Ferreira, para o fórum www.makingoff.org, Confiram a seguir.

“A obra de Ingmar Bergman já se encontra inscrita no cânone cinematográfico. Tal qual Machado de Assis ou Fiódor Dostoiévski para a literatura universal, só para citar dois exemplos, a produção bergmaniana é preciosa para o cinema.
Sua filmografia é vasta, mas se tivéssemos de resumi-la em uma única palavra, talvez a melhor fosse: interiores. Daí, pode-se desdobrar o que configura a grande busca do diretor: o entendimento do que se passa no coração dos homens, a angústia que qualquer um tem diante da existência e de sua finitude, as incongruências da vida a dois, o silêncio que paira, latente e lancinante, entre os homens, ainda que se fale muito e se dialogue muito. Temas universais, como se vê, ainda que quase toda sua obra tenha sido filmada na longínqua Suécia.
No caso de “Morangos silvestres”, a chave para que se penetre no longa não está presente desde seu título, um tanto obscuro, mas interessante. O interesse de Bergman no filme é flagrar a memória, uma das mais importantes ferramentas que um indivíduo tem, pois se trata de uma aliada do conhecimento.
A memória específica de que o sueco fala no filme é a de um professor de idade avançada, que tem um prêmio importante para receber na cidade onde morou, por sua contribuição como docente e como médico. Para chegar ao local da honraria, toma seu carro, e para lá segue com sua nora. No caminho, é tomado por lembranças de episódios de sua longa vida. Lembranças boas e ruins, que trazem à boca e ao coração gosto de mel ou de fel, como ocorre com qualquer indivíduo. O mergulho feito pelo personagem em suas memórias é acompanhado pelo espectador, que flagra a infância do personagem ,na qual ele costumava colher morangos silvestres, o que justifica o título dado ao filme. O idoso relembra festas, diálogos, pessoas, cores, sabores, texturas e emoções que o atravessaram ao longo do tempo.

Ainda que em preto e branco, a história é contada com belas imagens, e num ritmo lento para os padrões contemporâneos. Lentidão que cabe às recordações de alguém que já não tem mais seus vinte anos. E vale lembrar também que o longa foi rodado no distante ano de 1957, época em que Bergman dirigira outra pérola: “O sétimo selo”. Apesar de longe no tempo, o cinema de Bergman não ficou datado. Suas questões são ainda atuais, pois o ser humano é sempre ser humano, em qualquer lugar ou momento histórico.
Os filmes do cineasta evocam todo tipo de discussão: filosófica, existencial, psicanalítica. A preocupação aqui não é enveredar por nenhum desses caminhos, mas apenas descrever o êxtase gerado pela contemplação de pequenas epifanias de alguém que já percoreu uma extensa trajetória, o que Bergman faz como poucos. Ele desnuda o humano, expondo suas fragilidades, tendo a câmera como cúmplice. É como se, em certa medida, o espectador também fosse desnudado, a partir da identificação que tem com as cenas apresentadas.
São esses fatores que, somados, dão beleza, graça e vitalidade a “Morangos silvestres”. É cinema autoral, que não se faz preocupado em arrebatar grandes platéias, e que deleita olhos enfadados de efeitos visuais escalafobéticos. Um cinema que se faz sem traço algum de maniqueísmo, sem a preocupação de se colocar um herói e seu antagonista. Até porque, sabe-se muito bem, nós mesmos podemos ser nossos maiores inimigos.
Assistir ao filme é tarefa obrigatória. Mas é uma obrigação que e cumpre com extremo prazer por aqueles que se interessam por vislumbrar a dimensão do humano, e que desejam compartilhar, ainda que pela simples contemplação, a dúvida sobre o sentido da vida, a maior inquietação que temos”.

Por Patrick Corrêa dos Santos Ferreira

Referências:

www.makingoff.org

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ingmar_Bergman

 

 

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